




O programa da TV Globo, Globo Esporte, de 27 de novembro desse ano de 2008, anunciou que, no portal da Globo.com, seção Esportes, há uma enquete para a livre expressão dos internautas sobre três recentes assuntos polêmicos que atingem o futebol, dentro e fora de campo. Fora de campo, diz respeito a tal da MALA BRANCA, uma forma de presentear um jogador, com dinheiro, para que ele se empenhe ao máximo, no jogo que fizer contra um adversário que deve ser derrotado, a fim de favorecer, na tabela, o time que oferece essa ajuda pecuniária. Esquisito, não? Até a explicação é confusa. Mas é isso mesmo. Um tipo de propina velada, ou sei lá o quê. Isso é posto, como se o jogador profissional já não ganhasse o suficiente para se empenhar ao máximo contra qualquer adversário. Dentro do campo, há duas perguntas sobre comportamento. Primeiro, quanto à SIMULAÇÃO DO JOGADOR, fingindo estar machucado, para ganhar tempo. A segunda, diz respeito à ININTERRUPTA ATUAÇÃO FALTOSA dos jogadores, com a intenção deliberada de parar o jogo, impedindo a organização do adversário em campo, quando, reconhecidamente, naquele dia do jogo, está mais fraco, tecnicamente. Chamou-se a isso de FALTAS INTELIGENTES. Parece-me que as três indagações aos amantes do futebol-esporte são o retrato cuspido e escarrado do que acontece hoje em nosso país, afundado num mar de mediocridades intelectuais, sem ética e com comportamentos desviantes, os mais indignos possíveis. O Brasil está sendo governado por uma maioria absoluta de políticos mentirosos, logo o fingimento tornou-se uma fórmula infalível de legitimação das mais torpes falsidades, deteriorando-se o campo de atuação do psicossocial, chegando-se a uma total e profunda inversão de valores. O que são os furtos constantes da dinheirama do INSS, senão o fingimento, a fraude, o estelionato? O que são os presentinhos trocados entre altos funcionários do governo e executivos da iniciativa privada, antes de gordas concorrências públicas, embora haja leis e mais leis que coíbam tal prática? O que são as difamações, os falsos relatórios, os dociês apócrifos, as detratações e tantos outros procedimentos indignos que derrubam a reputação de gente proba? Isso acontece, em campo, na forma de pontapés, sucessivas faltas, caneladas. O que são os empurrões, cotoveladas, quebra-quebra, queima-queima, quebra-paus, ou taca-fogo-em-tudo, puxões de camisas, amassa-amassa, queima-logo, derruba-tudo ou amassa-e-mata-esses-fazendeiros, diretores, pesquisadores, cientistas que não entendem nada, porque nós somos os sem-terra e vivemos muito mal... Minha gente! Observando a votação no portal da Globo vi que muitos ainda são a favor da simulação, da corrupção velada e do anti-futebol. Vergonhosamente, esse esporte imita a vida que se vive hoje no Brasil. Uma pena!
ATÉ A PRÓXIMA

Vocês estão lembrados como eram as transmissões dos jogos de futebol pelo rádio e pela televisão? Bem, era muito mais emocionante do que hoje em dia. Vejamos como esses dois veículos de comunicação de massa trabalham, ou melhor, como falam. Ouvir rádio é imaginar como os fatos estão acontecendo. Todas as informações nos atingem por um único canal: a audição. Temos que ficar atentos a tudo, para não perdermos os sinais chaves da emissão. Tudo que é transmitido pelo locutor, no caso o locutor esportivo, exige muita concentração por parte dos ouvintes, que vão recriando sucessivos panoramas acústicos, formando um conjunto imaginário de fatos, que se materializam em sua mente, o mais próximo possível da realidade retratada pelo emissor. O que o locutor apresenta excita o ouvinte e o mergulha num espaço acústico, à semelhança de uma peça teatral que é encenada num palco e que preenche nossos sentidos, não apenas com a visão dos acontecimentos, mas com a plenitude sinestésica de todos eles, uns recorrendo aos outros. Isso acontece nas transmissões radiofônicas, pelo distanciamento entre aquele que fala e aquele que ouve. Hoje, vivemos num espaço pluridimensional de mensagens múltiplas, instantâneas e infindáveis, veiculadas pelos meios eletrônicos de comunicação de massa. Neste ambiente, basicamente no da atuação das mensagens via rádio, de alta saturação, o homem exercita, a toda hora, a sua capacidade de abstrair, tentando separar pelo pensamento o que não está separado no objeto do pensamento. Por está hoje o rádio embutido na vida social moderna, não era vazia de conteúdo a chamada marcante da Rádio Globo, que insistia em anunciar enfaticamente que “o brasileiro não vive sem rádio”. Então, é só observarmos nos campos de futebol muitos torcedores assistindo às partidas com o radinho de pilhas junto ao ouvido, não se satisfazendo somente com o que estão vendo, mas querendo se certificar daquela realidade pela voz superior do oráculo eletrônico dos tempos modernos: o rádio. Assim, a produção radiofônica das transmissões de partidas de futebol torna o ouvinte um súdito dependente, pela mixagem dos sons, e, também, ao mesmo tempo, um repetidor passivo de seus comentários. Portanto, vejam como aumenta a responsabilidade dos profissionais que transmitem e comentam as partidas de futebol, pois se colocam como verdadeiros iluminados da verdade transitada em julgado.
BLEFE é uma forma de enganar o adversário, em um jogo, dentro das regras desse mesmo jogo. O termo migrou dos jogos de carta para todo tipo de jogo, inclusive o futebol. Não se espante aquele que nunca pensou que as origens desse vocábulo estivessem ligadas à cultura lingüística inglesa, pois os ingleses foram os que mais enganaram o mundo na arte da guerra, da política e, principalmente, na forma de conduzir seus mais sofisticados jogos, a começar pelo pôquer. Mas voltando ao blefe nos esportes, principalmente nos coletivos. Observamos que no futebol, além daquele blefe espetacular, aplicado no Maracanã por Wasinhgton, no goleiro Marcos do Palmeiras, há, também, a tão discutida “paradinha” na cobrança do pênalti. Sabemos, perfeitamente, que qualquer forma de ilusão não é bem-vinda, mas que é espetacular, isso é! No vôlei, as falsas cortadas são blefes. O antigo saque “jornada nas estrelas” de Bernard era um blefe, também. No basquete, o drible com a bola passando por trás do corpo do jogador que avança e a menção em lançar a bola à cesta, retendo-a na mão, enganando o jogador adversário, que pula para cortar a sua trajetória, são blefes, da mesma forma. No tênis, esporte que não é coletivo, a jogada curta, com efeito, que leva a bolinha a ficar pertinho da rede, longe do adversário que ficou no fundo da quadra, é um blefe. Os blefes são jogadas espetaculares, por isso haverá sempre aqueles que com elas se admiram e os que as abominarão sempre, dependendo para quem estão torcendo, para quem aplicou o blefe ou para quem foi enganado. A vida é assim, meus caros amigos! Não adianta esses falantes profissionais das mesas-redondas do SporTV, da GloboSAT, se esgoelarem, dizendo as maiores bobagens em seus comentários sobre esse assunto. Dizem esses falantes sem imaginação que o blefe do Washington pode ter sido legal –(porque o competente Renato Marsiglia disse que o lance foi válido) – mas foi imoral e antiesportivo... Não confunda alhos com bugalhos, gente! Não se fazem mais comentaristas como antigamente! Que saudade do João Saldanha!
O Gol do Carlinhos contra o Palmeiras não teve nada de irregular. Washington não botou a mão na bola, ele só fez um gesto com a mão, como se fosse tomar impulso para cabecear. Tanto é verdade que o goleiro Marcos, entrevistado no fim do jogo não disse nada sobre uma possível irregularidade na atitude do Coração Valente da camisa 9 do fluzão. Esses comentaristas profissionais que passam a vida toda tecendo comentários sobre jogos de futebol, principalmente os dos canais a cabo ou satélite da GloboSAT, como é o caso de Renato Marsiglia, quase todos torcedores de times paulistas ou flamenguistas doentes, é que trouxeram essa bobagem de gol ilícito. No Jornal Nacional, das 20h15min os redatores de esporte nada disseram de gol irregular, pelo contrário, disseram que Washington tentou cabecear e a bola enganou o goleiro Marcos. Vejam bem! No vôlei, quando o levantador passa a bola para ser cortada, muitos jogadores pulam junto à rede, como se fossem cortar, iludindo a defesa ou bloqueio adversário. Talvez isso tenha influenciado a regra do futebol, que nada fala sobre intensão de o jogador tentar colocar a mão na bola. Nesse jogão entre o Flu e o Palmeiras, num sábado ates do segundo turno das eleições municipais, Carlinhos lançou a bola na área do Palmeiras e Washington pulou na frente de Marcos sem fazer falta alguma. O gesto com a mão não foi em direção à bola, mesmo porque ele não seria idiota da objetividade, relembrando Nelson Rodrigues, para tocá-la, e, aí, sim, é que caracterizaria uma falta e o atacante desperdiçaria uma oportunidade cristalina de gol. O fato é que o gol aconteceu e abriu caminho para a grande vitória épica no maracanã por três a zero. Épica, sim, pois nunca, nesse campeonato, o Fabinho marcou tão estoicamente os jogadores do meio de campo do Palmeiras, levando ânimo ao ataque e sossego à defesa. Jogou um bolão, como todos os demais jogadores do tricolor carioca. De parabéns está o Fluminense e livre do fantasma da segundona, agora rebaixado a espírito de porco, primo da mula-sem-cabeça, que veio para "iluminar" esses comentários, sem pé nem cabeça, de alguns narradores de futebol da tevê, que desempenham um papel ridículo de dublê de narradores e péssimos comentaristas. São raríssimas as exceções. Fim. Fora, azar! Pé-de-pato-mangalô-três-vezes!
ATÉ A PRÓXIMA



No programa Arena Sportv, do dia 8 de outubro de 2008, do Canal 39 do SPORTV, da Rede Globo de Televisão, o assunto que iniciou o programa foi praticamente relacionado com o repertório e desempenho, em entrevistas, de jogadores de futebol e repórteres, de um modo geral. Argumentou-se que está ocorrendo, de ambos os lados, um aumento sensível no bom desempenho de todos os envolvidos nesse processo. O tema desse assunto foi colocado para discussão e apreciação dos convidados do apresentador do programa, o jornalista Cléber Machado que, diga-se a bem da verdade, sempre se coloca como um moderador de eficientíssima qualidade, tanto no aspecto cultural de uma maneira ampla, como no jornalístico. Mas gostaríamos, mesmo, de falar, aqui, em nosso BLOG, Letras Futebol Clube, sobre um fato importante que está acontecendo no mundo do futebol. Trata-se de uma aceleração significativa do comportamento dos jogadores de futebol diante dos microfones e câmaras de televisão. Como este comportamento melhorou! Como melhorou sua comunicação, através da linguagem oral, com os repórteres, no campo de jogo e nos estúdios de televisão! Observamos poucos equívocos gramaticais; poucos vícios de linguagem; poucos barbarismos lingüísticos, enfim, uma razoável assimilação de conteúdos, inerentes à comunicação oral. A Língua Portuguesa não se apresenta tão estropiada como nas entrevistas de antigamente, nem a sintaxe está sendo tão vilipendiada como nos tempos de antanho. O raciocínio lógico está sendo construído com clareza e as idéias se apresentam bem colocadas, fazendo com que as respostas dos entrevistados batam quase que rigorosamente com as perguntas feitas pelos entrevistadores. Mas, é sempre bom lembrar que os dois lados, algumas vezes, “pisam na bola”, como se diz na gíria ou linguagem especial do futebol. Porém, o indicador mais significativo, para comprovar tudo isso que foi dito, também, no início do programa de Cléber Machado, é que desapareceu das páginas de humor de nosso rádio, de nossa televisão e de nossas revistas a figura do mau jogador de futebol, como fazia o genial Chico Anísio, na década de 80, colocando na voz de sua inesquecível personagem, Coalhada, uma série infindável de asneiras, caracterizando o mau desempenho de uma função social: o jogador de futebol, desqualificado culturalmente para a profissão que o faria financeiramente independente. Coalhada era o jogador de futebol à mercê dos cartolas, despreparado para as funções, cheio de vícios e ávido de fama. Pertenceu a um discurso de sátira (humor como riso) que criticava os representantes da cultura comunitária. No caso, Coalhada inseria-se na segunda fase das sátiras de Chico Anísio, a que estava ligada à metrópole, representativa da República Nova. Eram sátiras caracterizadas pelas críticas às instituições sociais das grandes cidades, como também a personagem Azambuja, o malandro, o vigarista picaresco, uma crítica à situação econômica da época. Hoje, percebe-se que houve uma aceleração cultural das massas e não vemos mais essas figuras nos programas de humor como riso, em qualquer segmento da mídia. Contudo, temos a certeza de que isso acontece muito mais pela mediocridade das produções, por desconhecimento teórico do assunto, do que pela falta de matéria prima.
E o futsal, como está contribuindo para aumentar o vocabulário da língua especial do futebol? O Brasil sedia, nesse ano de 2008, o Campeonato Mundial de Futebol de Salão, esporte oficialmente reconhecido e disciplinado pela FIFA. Com a vitória por 7 a zero, hoje, dia que antecede as eleições municipais brasileiras, em Brasília a nossa Seleção de Futsal deu um chocolate na Rússia. Ouvimos esse termo ser empregado nos comentários do SporTV, canal a cabo da Globo. Muitos narradores e comentaristas, ao transmitirem essa modalidade esportiva tão parecida com o futebol tradicional utilizam termos e expressões consagrados nos gramados de todos os estádios, onde a bola rola, a grama cresce e as firulas acontecem. 




Você sabe o que é cenismo ? Isso mesmo! Cenismo é um empréstimo lingüístico. É um estrangeirismo. Uma palavra de uma língua estrangeira, diferente do Português, pronunciada ou escrita, por alguém. No futebol há alguns cenismos, isto é, expressões da língua inglesa que se usam normalmente, quando alguém fala desse magnífico esporte. São exemplos de cenismos ou estrangeirismos: fre-kick (o goleiro coloca a mão na bola fora da grande área); toss (arremesso da moeda ao ar, pelo juiz da partida, para ver quem escolhe o lado do campo de jogo). Também são cenismos as duas letras “WM” e “WO” . WM foi um sistema de jogo, criado em 1927 pelo técnico inglês, Herbert Chapman, do Arsenal de Londres. A posição dos jogadores de defesa, em campo, formava a letra “W” e a posição dos jogadores de ataque formava a letra “M”. Já “WO” é a abreviatura do termo inglês walkover, que significa marcha concluída. Designa o evento esportivo em que o adversário não comparece em campo, sendo dada a vitória ao que compareceu. 
A linguagem dos esportes está cheia de vida. Principalmente a linguagem dos esportes de massa. Aliás, o leitor sabe por que dizemos que um esporte é de massa? O que nos vem logo à mente é o futebol. Este esporte é de massa porque uma multidão está quase sempre presente nas arquibancadas ou em volta do alambrado dos campos de futebol e, além disso, as partidas são transmitidas pelas ondas de rádio até um grande público, por locutores e comentaristas especializados. E a televisão? Essa é a grande vedete do espetáculo, não nos esquecendo dos jogadores, obviamente. Pois é! A divulgação da partida pelo rádio e pela televisão, além dos comentários no dia seguinte nos jornais, faz com que o espetáculo seja visto, ouvido e comentado por milhares de pessoas, das quais nada sabemos a não ser que apreciam muito este esporte. São receptores sem rosto, anônimos, mas que existem e torcem, muitas vezes, fanaticamente. Eles se manifestam e são medidos, contabilizados, mas nunca identificados. Interessam aos institutos de pesquisa e são disputados pelo poder econômico que domina os aparelhos de divulgação de mensagens. A isso se chama AUDIÊNCIA. 
Quem observa atentamente o jogo de futebol, com os olhos interessados em buscar respostas para o que acontece com os jogadores envolvidos por seus movimentos acrobáticos na perseguição à bola e no contato que eles têm com ela, levando-a sempre colada a seus pés ou abraçando-a com as mãos, no caso dos goleiros, vai entender por que há uma relação imensa entre o futebol e a intimidade feminina. Essa visão de que o jogador persegue a bola em campo como o homem persegue a mulher para desfrutar de suas amabilidades é uma visão impressionista do observador. E o observador que a tudo isso presencia, por ofício, é o profissional do rádio, da Tv e dos diversos meios gutembérticos, como jornais e revistas. Essa visão impressionista cria termos e expressões, surgindo aí verdadeiros jargões que se incorporam à gíria do futebol. Essa linguagem especial trabalha basicamente com a estrutura morfológica da língua. As demais estruturas, como a fonética e a sintática quase não são atingidas por essa criatividade. É claro que esses novos termos e essa nova visão do jogo estão repletos de expressividade, daí a boa acolhida que têm pelo povão e por todos os amantes desse formidável esporte de massas, que é o futebol. Como a bola, a grande vedete do jogo, é um substantivo feminino, toda a carga semântica da feminilidade recai sobre ela, principalmente quando, na visão do narrador do jogo, os jogadores passam a desenvolver com ela um malabarismo circense de causar delírio nos espectadores. Sabe-se que as formas estéticas estão centradas na ótica do receptor e, portanto, os aficionados do futebol, que assistem aos jogos nas arquibancadas, de radinho colado ao ouvido ou no recesso do lar, comodamente refestelados no sofá da sala de jantar vendo o jogo pela televisão, transformando-se em receptores finais da grande mensagem audiovisual do espetáculo, estão todos prontos para serem multiplicadores desses mesmos valores estéticos, portanto. Então, tanto decodificado, à custa de seu próprio repertório, ou induzido a uma decodificação que os obriga a aceitar como belo o que vêem em campo, aceitam as acrobacias dos jogadores como Real e recriam em seu subconsciente o sema circense, com Fantasia. Aí, todos os componentes da sensualidade reprimida extravasam no delírio dos que torcem, com gritos de histeria e urros bem próximos do orgasmo. Assim, imagens subliminares se criam na mente do torcedor pela presença da pantomima executada pelo jogador que trama com a bola uma hipotética orgia libidinosa. Essa linguagem do inconsciente se consubstancia na letra do discurso lingüístico, através da metonímia, uma condensação manifesta e um deslocamento latente. Portanto, essas formas lingüísticas associadas à feminilidade e à intimidade libidinosa surgem pelo trabalho do discurso do Outro. Os termos, os sintagmas e demais expressões eivadas de erotismo são disseminadas por todos os que se identificam com a linguagem do futebol e proliferam. Muitos são os exemplos: ABRIR AS PERNAS; ACARICIAR A BOLA; AGASALHAR A CRIANÇA; BALANÇAR O VÉU DA NOIVA; CHAMAR A BOLA DE MEU BEM; CHAMAR A BOLA DE MARICOTA e muito mais. A origem está numa visão impressionista dos locutores, comentaristas e repórteres esportivos, mas, por esse modelo, o público-alvo também se torna criador, ficando a criatura perpetuada numa linguagem especial de uma época, que, se não for registrada, pode se perder no porvir.
O Brasil jogou sua última partida de futebol (15/08) nessas Olimpíadas de 2008, na China, contra um país de nome complicado. Aliás, essa equipe de futebol já complicou a nossa vida e é bastante conhecida de nossos jogadores, técnicos e dirigentes, isso porque nos mandou para casa mais cedo, nas Olimpíadas de 2000. Mas seu nome ainda desperta curiosidade por ser, no mínimo, inusitado. Camarão é aumentativo de um primitivo nome, hipoteticamente reconstituído, cámaro. Em espanhol é cámaro, camarón, do latim cammaru, do grego kámmaros. Já em italiano, a forma gambaro vem de uma variante latina cambaru, também hipotética, tudo registrado por Antenor Nascentes, em seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Na história do Brasil encontramos o herói indígena Potü ou Poti, batizado com o nome cristão de Antônio Filipe, aliado dos Portugueses nas lutas contra os Holandeses, no século XVII. O poti ou potim é o nome indígena do camarão, muito comum nos rios brasileiros. Na África, uma antiga colônia alemã, hoje país independente, tem o nome de Camarões, limitado a oeste e a norte pela Nigéria, a leste pelo Chade e pela República Centro-Africana, a sul pelo Congo, pelo Gabão e por Mbini (Guiné Equatorial) e a oeste pelo Golfo da Guiné, através do qual faz fronteira com a Guiné Equatorial, via a ilha de Bioko. Capital Taoundé. O nome Camarões corresponde ao francês Cameroun e ao alemão Kamerun. Segundo José Pedro Machado, “há quem chame Camerun a esta antiga colônia alemã em África, por adaptação de qualquer das formas (Cameroun / Kamerum). Estas, afinal, eram também adaptações, mas do português Camarões, nome de rio local onde havia desses animais em abundâncias e de apreciável tamanho”. Cita, a seguir, em seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa: “Adiante d’essa serra de Fernan do Poo duas legoas ao nordeste está hum rio que se chama dos Camarões e aqui há muita pescaria...”, in Esmeraldo, p. 126.
No vôlei feminino ocorrem registros dos dois sufixos; o de diminutivo e o de aumentativo. Assim, temos as jogadoras, mundialmente consagradas com vários títulos mundiais: Fofão, apelido dado pelo técnico José Roberto a Hélia Rogério de Sousa, de 1,73m, por achar seu nome muito complicado. Por que não Fofona ou Fofinha? Não encontramos outro nome próprio feminino com esse sufixo –ão. Já em Valeskinha, nome de Valeska dos Santos Menezes, de 1,80m, parece que foi adotada essa forma para não confundir com Walewska Moreira de Oliveira, de 1,90m. Ainda, a nosso ver, encontramos os afetivos Joycinha (Joyce Gomes da Silva), de 1,90m e Renatinha (Renata Colombo, de 1,81m), jogadora que pertenceu ao Rexoma-Ades.
No futebol masculino a coisa é diferente. Esse esporte de força, de muitos movimentos, de saltos, correria, lances bruscos, muitas vezes responsáveis por graves contusões, apresenta seus “craques” e muitos jogadores importantes com aquela característica bem familiar do diminutivo ou do aumentativo. É interessante registrar que o aumentativo também pode introduzir a noção de “excelente”, “fantástico” quando, ao nome do jogador de grande destaque na partida, é acrescentado o sufixo –ão. Citamos como exemplo o goleiro do Palmeiras, ex-Seleção Brasileira, que, normalmente, é escalado com o nome de Marcos, mas se transforma em Marcão, ao fazer defesas maravilhosas, fechando o gol, como se diz na gíria do futebol. É chamado de Marcão tanto pelos locutores que transmitem as partidas, como pelos torcedores nas arquibancadas. Parece que houve uma contaminação semântica entre o sentido do sufixo –ão, com o conceito de “bom”, “excelente”, porque o dimensionamento (tamanho), inerente ao sufixo –ão, em substantivos, se mistura à forma idiomática de se empregar um substantivo com o valor (adjetivo) superlativo. Diz-se “ele é um homão”, querendo-se dizer que “ele é um homem muito bom, excelente homem”. O substantivo próprio (Marcão) passa a se comportar desta mesma forma, isto é, com função adjetiva, capaz de poder expressar, pelo sufixo a ele acrescentado, um sentido de intensidade. Esse fenômeno lingüístico está na deriva da língua portuguesa, uma vez que ocorre com certa freqüência, em situações quando, na linguagem, predomina a função poética. Há muitos anos, apareceu em out-doors, na cidade do Rio de Janeiro, uma publicidade do então Banco do Estado, BANERJ, pioneiro no lançamento do cheque especial, que dizia o seguinte: 