PESQUISE NUMA BOA

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CAMPEONATO CARIOCA ? ONDE ? QUANDO ? COMO ?


Sou do tempo em que o campeonato carioca era de cariocas mesmo. Quer dizer, os times que disputavam o campeonato eram da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Menos um, o Canto do Rio, que era de Niterói. O campeonato era por pontos corridos e os jornais da época, nas seções de esportes davam a colocação, sempre nas segundas-feiras, com alegorias criativas, como corrida de automóveis, chamadas de baratinha, ou em engraçadas figuras, representando os times, subindo num pau de sebo. Carioca torcia para carioca. Os times de primeira linha, evidentemente, tinham as maiores torcidas que enchiam os estádios da Gávea, das Laranjeiras, do Botafogo da rua General Severiano, do Vasco da Gama, o time da colina de São Januário, do Olaria, do Bangu, em Moça Bonita, quentíssimo subúrbio da Central, do Bonsucesso, do América, em Campos Sales, do São Cristóvão, onde nasceu o fenômeno Ronaldinho, do Madureira da rua Conselheiro Galvão, num senhor bairro, onde ferve um comércio fabuloso. Um pouco mais recente, o Campo Grande, representante da zona oeste do Rio, e a Portuguesa, localizada nos descampados dos ventos uivantes da Ilha do Governador, também compuseram esse conglomerado de times, o que fazia do campeonato carioca o mais glamoroso, pois todos eles eram da mesma cidade, da Cidade Maravilhosa. Menos o Canto do Rio, como dissemos, de cujo bairro niteroiense se descortina a mais espetacular vista do Rio de Janeiro, emoldurado pela Baía da Guanabara. Um show! Não sou do tempo do Andaraí, mas sei que em seu estádio, naquele bairro entre Vila Isabel e Grajaú, que já foi do América e hoje abriga um Shopping esquisitíssimo, já houve memoráveis partidas de futebol. Foi lá que jogou, por aquele Andaraí Atlético Clube, o famoso Dondon, que até virou música de autoria de Nei Lopes, interpretada por Zeca pagodinho e depois por Dudu Nobre.

Portanto, tenho uma opinião formada sobre o campeonato regional do Rio de Janeiro. Os times grandes e os pequenos, que ainda existem, com sede na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que têm tradição na disputa de campeonatos desde os tempos pré-cabralianos, disputariam um campeonato por pontos corridos ou de qualquer outra forma, desde que se descubra uma agenda para isso. Se não tiverem, o Secretário de Esportes do Rio, juntamente com o Prefeito e a CBF arranjariam um jeito em prol da volta de tudo aquilo que encheu de encanto e poesia o campeonato de futebol da nossa maravilhosa cidade.

Paralelamente os clubes das cidades do interior disputariam um campeonato nos mesmos moldes. Capital é capital e interior é interior, sem nenhum resquício de superioridade sócio-cultural, mas em favor da crua realidade. O campeão da Cidade do Rio de Janeiro (Campeão CARIOCA) jogaria com o campeão do interior do Estado do Rio de Janeiro (Campeão Fluminense - sem trocadilho). Aí sim, seria conhecido o campeão ESTADUAL. Campeão CARIOCA é uma coisa. Campeão ESTADUAL FLUMINENSE é outra coisa. Nada de Taça Guanabara e de Taça Rio. Isso não diz nada, nada acrescenta à crônica...
Veja em São Paulo. O campeão do Estado se chama CAMPEÃO PAULISTA e não CAMPEÃO PAULISTANO. Lá, em São Paulo, do campeonato Estadual participam clubes da capital e do interior. Daí, campeão PAULISTA. Mas São Paulo é outra coisa, ô mêo!


ATÉ A PRÓXIMA

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

AS MARCHINHAS CARNAVALESCAS VÃO VOLTAR ?


Estou postando nesse BLOG mais dedicado aos temas dos esportes de massa, basicamente o futebol, porque no BLOG DO PROFESSOR estão sendo postados os textos dedicados à memória do Professor Leodegário A. de Azevedo Filho, falecido no dia 30 de janeiro de 2011, no Rio de Janeiro.
Assim, este texto sobre as marchinhas de carnaval será publicado também, oportunamaente no BLOG DO PROFESSOR .


“Tanto riso, oh quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...

Será que ainda existem arlequins e colombinas ? Não há mais bailes de carnaval ! A Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro mudou. O Brasil mudou. O mundo mudou. Nós mudamos. A folia de carnaval combinava com o romantismo do pecado, escamoteado em rápidos agarramentos, beijinho no pescoço, alguns até na boca e mãos alisando os seios pela metade. Isso mesmo, só a parte de cima. Apalpá-los totalmente só na terça-feira gorda. Hoje, as cenas da Casa Mais Vigiada do Brasil, que repetem as orgias das casas de prostituição da Rua Alice, dos idos dos anos 40, com muito mais profissionalismo, não despertam em ninguém nenhuma sensação de desejo. Vulgarizou geral. As investidas da rapaziada nos blocos de sujo para cima das meninas deixaram de ter motivação. Consegue-se tudo isso a qualquer momento, com qualquer parceira, em nome de uma modernidade luxuriosa, presente em todas as casas que tenham um aparelho de televisão ligado na Rede Globo, ufanisticamente aplaudida por um povinho sem cultura nenhuma e com um gosto musical, esteticamente castrado, fã ardoroso de um grande animador, dublê de literato, apresentador desse programa chamado, só para disfarçar, de jogo de relacionamento social.

Nos carnavais de antigamente uma libidinagem bem acanhada e o proibido mesmo alimentavam a fantasia do desejo, explodindo toda a manifestação sensual reprimida na verbalização das marchinhas carnavalescas, com suas letras quase sempre falando da paixão carnal, da dor de cotovelo, do amor não correspondido, tudo com metáforas poéticas, sem vocábulos chulos e muito duplo sentido, um resquício de recato, para não falar vergonha, que desapareceu totalmente nos dias de hoje. Os temas recorrentes a assuntos que agora poderíamos chamar de politicamente incorretos, ou de socialmente degradados, como, por exemplo, a famosa Cabeleira dos inúmeros Zezés, que andam por aí, eram retratados metaforicamente, com recato e duplo sentido, diluindo o referencial numa linguagem figurada bem arrumada, induzida e bem produzida. Isso mesmo, com RIMA !

Também era muito comum nas letras das marchinhas de carnaval a crítica política, explicitada através do humor como riso. As "maracutaias" dos políticos da época surgiam espirituosamente nas músicas carnavalescas, sempre com retumbante sucesso, como se o desvio social do homem público fosse alguma coisa para se achar graça... Mas era assim mesmo e creio que a coisa ainda não mudou. Quanto aos desmandos e às roubalheiras dos políticos atuais, parece que nisso ninguém mais acha graça, não. Mas muita gente deixa como está, porque pior não pode ficar, não é Deputado Tiririca? Esses desvios não têm mais graça nenhuma e, agora, não seria tema de nenhuma música carnavalesca, pensamos nós. A censura dos anos 40 e 50 ainda despertava a vontade de se criticar o “status quo”. Parece que hoje, isso não funcionaria. Está ocorrendo uma tentativa para reviver as marchinhas de carnaval, mas a divulgação das músicas vencedoras nos concursos promovidos pela TV Globo, no FANTÁSTICO, aos domingos, não são muito divulgadas pelo rádio, como antigamente. E as Organizações Globo sabem que "o brasileiro não vive sem rádio"! Aliás, o Rádio também mudou. Não se faz mais uma PRE-8, Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, como antigamente! No interior do Brasil as emissoras de rádio só tocam música da pior qualidade. E quem ouve? Gente de uma sensibilidade também muito questionável. Realmente, os tempos mudaram, mas a música, erudita ou popular, e a poesia construída com nosso idioma sempre terão um lugar de destaque na vida artística de todos aqueles que cultuam a arte e trabalham com a estética do belo.

Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão”.
(Zé Keti)

ATÉ A PRÓXIMA

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

AS FOGOSAS AVENTURAS DE J. FERREIRA


Estou postando nesse BLOG mais dedicado aos temas dos esportes de massa, basicamente o futebol, porque no BLOG DO PROFESSOR estão sendo postados os textos dedicados à memória do Professor Leodegário A. de Azevedo Filho, falecido no último domingo, dia 30 de janeiro de 2011, no Rio de Janeiro.


Assim, esta RECENSÃO sobre o livro de Maurício Murad, AS FOGOSAS AVENTURAS DE J. FERREIRA, será publicada também, oportunamaente no BLOG DO PROFESSOR .

RECENSÃO

Editora 7 Letras, RJ, 2008.128 páginas.

AS FOGOSAS AVENTURAS DE J. FERREIRA é um romance de Maurício Murad que pretende ser uma fábula, com resquícios literários machadianos e que fala da vida, do amor e dos percalços por que passa um casal da classe média de nossos dias. Uma doença degenerativa, o Mal de Alzheimer, ceifa a vida do personagem central. A narrativa se torna densa. Ceifa a vida, mas não o prazer do texto, como diria Roland Barthes. O Autor mistura suas experiências de vida com um imaginário relacionamento familiar. Nos seus dez capítulos, o livro nos apresenta a progressão de um envolvimento bem articulado do narrador com o personagem central, João Ferreira, tratado referencialmente como J. Ferreira. Cada capítulo recebe um nome, significativamente retirado da história do texto desenvolvido.
O livro apresenta uma DEDICATÓRIA poética, referindo-se a três personagens chaves, onde a poesia já contracena com as duras vicissitudes da vida, prenúncio da morte, suavizada por uma narrativa eminentemente conotativa, escamoteando o triste desfecho da história. Assim, a partir desse primeiro contato com o romance, a metáfora do riso surgirá principalmente no primeiro capítulo, contrastando sempre, por antítese, com a tristeza da morte. E o primeiro capítulo funciona como uma introdução, apresentando o personagem Jota, através do discurso indireto livre e uma fala direta propositadamente dirigida ao leitor, que se excita e por isso se seduz com um discurso que lembra a técnica machadiana, fazendo do leitor seu cúmplice e parceiro.
Os recursos estilísticos utilizados por Maurício Murad são inúmeros e variam da metáfora ao estranhamento. Das sinestesias às hipálages, as mais variadas.
Olhei, meio porque não estava fazendo nada mesmo, e porque fui induzido a olhar para a frase que insistente serpenteava o tempo e ondulava o espaço”.
Com erudição, trabalha com maestria a grande característica do protagonista Jota, a sua simpatia e o seu riso, para quem, talvez, a vida poderia ser vista como uma grande comédia, rindo com todo o corpo, “menos com a boca”, região do corpo humano em que se especializou profissionalmente, como dentista. E no bloco praticamente da apresentação do personagem central, com uma sutil e bem colocada ironia, percorre inúmeras veredas do conhecimento, como na apresentação do bordão criado por J.Ferreira, o calor de bode. E as citações latinas surgem sem agredir o leitor, como a clássica sentença romana, “asinus ad liram”. De Santeui recolhe a máxima latina "ridendo mores castigat". E continua como crítico do cotidiano a colocar o dedo sobre as mazelas da vida social:
Crime pior do que assaltar um banco é fundar um banco”.
A leitura da vida se faz pelas palavras e seus significados primeiros.
Apesar da idade avançada e o jeito lento, tinha um aperto de mão cheio de personalidade e presença, dava pra sentir e eu senti o seu vigor. Fogoso, claro, fogoso! Tudo nele era fogoso. Todas as aventuras dele eram fogosas e fogosas não no sentido comum do termo. Marketing apelativo de um erotismo barato e diário, não, mas fogosas como fogo e fogo como energia, como vida, com alma, desse jeito mesmo como entendiam os gregos e sua mitológica mitologia”.

Serve-se de termos e frases latinas demonstrando erudição sem a pompa discursiva do academicismo, privilegiando a diacronia sobre a sincronia vocabular. E isso ocorre sempre que pretende teorizar.
Maurício Murad trabalha com o intertexto e sabe dosá-lo, sem ser ostensivo, colocando o saber no lugar certo, onde ele deve ser colocado, compondo o enredo, com exatidão, sem pernosticidade.

Ai, que saudades eu tenho, da aurora de minha vida, da minha infância querida, dos tempos que não voltam mais”.
O poético e a poesia em As fogosas aventuras de J. Ferreira surgem, muitas vezes, pela tentativa de uma teorização crítico-literária (“a poesia não é de quem a faz, mas de quem dela necessita”) e por alternância sintagmática em quiasma (“...e simultaneamente chorou e sorriu, sorriu e chorou”). Essa combinação de artifícios estéticos e lingüísticos imprime ao texto de Maurício Murad um estilo próprio, colocando seu discurso numa posição de significativo destaque na literatura brasileira atual. E com essa técnica narrativa apurada, o romance flui através do discurso indireto livre, o que posiciona o leitor no tempo subjetivo da narrativa. Nesse tempo proposto pelo autor, quase sempre, os diálogos surgem sem possibilidade de um feed-back, mas têm poder de captar a nossa atenção, evitando a dispersão. Diálogo proposto, monólogo exposto.
Ao retornar já tinha um plano completo para mim, que nunca revelou... para mim. Soube tempos depois, certa feita, num desses encontros em que caminhávamos pelo calçadão, soube por Jota que estava bravo com Analu, porque ela agora deu para inventar que eu estou esquecendo as mínimas coisas e não é verdade, eu lembro de muitas e muitas coisas, mesmo quando antigas”.

A narrativa do romance oscila sempre entre o autor onisciente e seu contraponto, J. Ferreira. É uma conversa com o leitor, para tentar chegar à degeneração física da personagem, praticamente biografada, no último capítulo, mas sempre com atenuantes minimizadoras da terrível realidade, o Mal de Alzheimer. Os textos se aproximam de um relatório amenizados por passagens poéticas (“Assim aspiro, assim espero”).

O caminho que se avizinhava era tortuoso e imprescritível. Nesse tipo de morada, as ruínas humanas eram vistas a olho nu. O nosso Jota havia chegado a um ponto onde os limites da existência se apresentavam duros e cruéis, acotovelando-se impiedosamente ao redor da pessoa. Eu era sabedor que essas baixas camadas da vida lá estaria pra nos receber”.

Finalmente, a personagem J. Ferreira fala pela narrativa onisciente do autor e uma das atenuantes acima referidas pode se encontrar no próprio título do último capítulo: PRIMEIRO DE ABRIL É UMA BOA DATA. Lá, até as metáforas, indicadoras do predomínio da conotação sobre a denotação são mais fortes, pesadas, mas aliviam a tensão que domina o texto final, impregnado pelo intertexto machadiano, onde o poético dilui o trágico.


ATÉ A PRÓXIMA