Prestem atenção, meus amigos. Um jogador que desponta para o sucesso, com tenra idade, sem escolaridade e cultura geral mínima, isto é, sem saber, por exemplo, o nome da capital do país para onde vai, quase sempre não é orientado por seu procurador, a respeito de como é viver no primeiro mundo, principalmente o europeu. Aliás, os procuradores desses craques-mirins estão interessados nos seus milionários contratos, pois recebem comissões ou algo parecido que engordarão suas poupanças. Assim e aí começam os problemas. Vejam, ainda. Se um desses craques que despertam para o estrelato internacional ganhasse aqui no Brasil, por exemplo, mais ou menos uns quinhentos mil reais por mês, pouco em relação aos dez ou cem mil euros, mas muito dinheiro para aqui viver bem, poderia perfeitamente amadurecer em paz em sua terra natal e ser muito feliz. Acompanhem minha tese a respeito. O cara com quinhentos mil reais de salário, grana que equivaleria a dois apartamentos de dois quartos por mês em Botafogo ou no Flamengo ou ainda, a sete carros de 70 mil reais cada um, bonitos, funcionais, muito bacanas, se sentiria muito bem e satisfeito, tenho certeza. Com toda essa baba preta, não faltariam gatinhas de plantão, em toda zona norte, para desfilarem em seus carrões nacionais e até com eles viajarem para fora do país, em rápidas férias, iniciando com o chek-in nos aeroportos internacionais do nosso amado, idolatrado, salve-salve, viva o Brasil! Se colocassem na poupança da Caixa todo esse dinheirão brasileiro, teriam, mensalmente, uns três mil reais sem fazer nada. Aqui, eles saberiam onde passar seus dias de folga. Leriam em português suas revistinhas de história em quadrinhos, jogariam totó nos hoteis, durante as concentrações, ouviriam rádio e as notícias das emissoras sensacionalistas que só anunciam mortes, assaltos, fofocas e liquidações formidáveis das Casas Bahia. Assistiriam às novelas da Globo, torcendo para os mocinhos e imitariam a moda do vestiário exibida pelos artistas famosos da novela das oito, tudo com muito mais segurança em seus atos do que vocês, leitores, podem imaginar. Continuando. Agora, o que sabem eles de italiano, inglês, francês, alemão, grego, russo ou até castelhano? Nada. Absolutamente nada! Mas, em poucos meses eles não aprenderiam a língua local? Que nada! Aprender uma língua não é perceber somente o significado de algumas palavras. É entender outros tópicos culturais do ambiente circundante em que vivem, pois a língua é apenas um dos vários outros signos culturais de uma sociedade. Aliás, o mais importante. Com o aprendizado de uma língua, toda uma gama cultural, um vasto acervo genérico, completa a formação integral de cada indivíduo. Isso é rápido? Não, repetimos. É demorado e doloroso. Adriano que o diga. Que sentido teve um palácio para esse Imperador do futebol de Roma, adquerido por milhares ou milhões de euros? Sentido nenhum para o jovem e iletrado Adriano, um senhor jogador de futebol, um excelente sujeito, mas um rapaz sem qualquer entendimento a respeito das formas arquitetônicas de seu edifício, de sua magnífica casa, de sua estupenda residência. Será que ele usava e entendia todos os signos semiológicos de sua mansão? Por exemplo, que sentido teria o triclínio na sua grandiosa sala de jantar? E era lá que reunia seus poucos amigos ou convidados. Quase todos os presentes, certamente, teriam poucas informações a respeito e estariam com seus repertórios semiológicos nivelados por baixo. Queremos dizer que, talvez, ninguém que frequentasse seu palácio soubesse o significado daquele móvel romano, colocado na ampla sala por uma competente decoradora, a serviço das melhores grifes da Roma moderna e capitalista. Então (e Parreira confirmou em sua entrevista no programa BEM AMIGOS de Galvão Bueno) Adriano saía da ampla sala e ia para a churrasqueira, fritar lingüiça e bebericar cachaça com limão, açúcar e gelo, brindando a todos e à sua angústia com uma brasileiríssima e plebeia caipirinha.
ATÉ BREVE
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