PESQUISE NUMA BOA

domingo, 24 de agosto de 2008

FUTEBOL E INTIMIDADE



Quem observa atentamente o jogo de futebol, com os olhos interessados em buscar respostas para o que acontece com os jogadores envolvidos por seus movimentos acrobáticos na perseguição à bola e no contato que eles têm com ela, levando-a sempre colada a seus pés ou abraçando-a com as mãos, no caso dos goleiros, vai entender por que há uma relação imensa entre o futebol e a intimidade feminina. Essa visão de que o jogador persegue a bola em campo como o homem persegue a mulher para desfrutar de suas amabilidades é uma visão impressionista do observador. E o observador que a tudo isso presencia, por ofício, é o profissional do rádio, da Tv e dos diversos meios gutembérticos, como jornais e revistas. Essa visão impressionista cria termos e expressões, surgindo aí verdadeiros jargões que se incorporam à gíria do futebol. Essa linguagem especial trabalha basicamente com a estrutura morfológica da língua. As demais estruturas, como a fonética e a sintática quase não são atingidas por essa criatividade. É claro que esses novos termos e essa nova visão do jogo estão repletos de expressividade, daí a boa acolhida que têm pelo povão e por todos os amantes desse formidável esporte de massas, que é o futebol. Como a bola, a grande vedete do jogo, é um substantivo feminino, toda a carga semântica da feminilidade recai sobre ela, principalmente quando, na visão do narrador do jogo, os jogadores passam a desenvolver com ela um malabarismo circense de causar delírio nos espectadores. Sabe-se que as formas estéticas estão centradas na ótica do receptor e, portanto, os aficionados do futebol, que assistem aos jogos nas arquibancadas, de radinho colado ao ouvido ou no recesso do lar, comodamente refestelados no sofá da sala de jantar vendo o jogo pela televisão, transformando-se em receptores finais da grande mensagem audiovisual do espetáculo, estão todos prontos para serem multiplicadores desses mesmos valores estéticos, portanto. Então, tanto decodificado, à custa de seu próprio repertório, ou induzido a uma decodificação que os obriga a aceitar como belo o que vêem em campo, aceitam as acrobacias dos jogadores como Real e recriam em seu subconsciente o sema circense, com Fantasia. Aí, todos os componentes da sensualidade reprimida extravasam no delírio dos que torcem, com gritos de histeria e urros bem próximos do orgasmo. Assim, imagens subliminares se criam na mente do torcedor pela presença da pantomima executada pelo jogador que trama com a bola uma hipotética orgia libidinosa. Essa linguagem do inconsciente se consubstancia na letra do discurso lingüístico, através da metonímia, uma condensação manifesta e um deslocamento latente. Portanto, essas formas lingüísticas associadas à feminilidade e à intimidade libidinosa surgem pelo trabalho do discurso do Outro. Os termos, os sintagmas e demais expressões eivadas de erotismo são disseminadas por todos os que se identificam com a linguagem do futebol e proliferam. Muitos são os exemplos: ABRIR AS PERNAS; ACARICIAR A BOLA; AGASALHAR A CRIANÇA; BALANÇAR O VÉU DA NOIVA; CHAMAR A BOLA DE MEU BEM; CHAMAR A BOLA DE MARICOTA e muito mais. A origem está numa visão impressionista dos locutores, comentaristas e repórteres esportivos, mas, por esse modelo, o público-alvo também se torna criador, ficando a criatura perpetuada numa linguagem especial de uma época, que, se não for registrada, pode se perder no porvir.
Até a próxima.

Um comentário:

Léo disse...

hehehe, muito bom !
mas a bola também trai mta gente , ainda mais quando não se tem intimidade rsrsrs