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quarta-feira, 1 de julho de 2009

A GALERA

Já não agüento mais ver pela televisão as torcidas nas arquibancadas dos estádios, por esse Brasil a fora. Principalmente nas tardes ou noites de inverno, em quase todas as regiões desse nosso imenso território. Os caras, vestindo casacos de moletom, com capuz, agasalhos parecendo imundos, tudo amassado e, talvez, fedendo, espargindo mesmo aquele odor acre de sabão ordinário, como diria o nosso escritor realista, Aluísio Azevedo, em seu romance O Cortiço. Não é preconceito, não! Apenas uma constatação. A nossa sociedade está órfã. Morreu a família. Ficou viúvo o Estado. A Família e o Estado são, no fundo, no fundo, responsáveis pela Sociedade, que distribui suas normas pelos indivíduos, agregados em grupos de solidariedade. Se esses grupos se dissolvem, os indivíduos vão procurar equivalentes, para se agregarem e se unirem em torno de uma nova forma de existência que lhes dêem perspectivas de vida, pois todos nós somos seres gregários. E o que tem tudo isso a ver com as galeras das arquibancadas dos campos de futebol? Tudo. A falta de informação e formação sistemática dos jovens das grandes cidades, aliada a uma péssima instrução para a sobrevivência, faz de uma massa incalculável de jovens uma manada de alucinados irracionais, pulando, quebrando, socando, brigando, xingando, berrando, agindo como verdadeiros animais, torcendo por seus clubes nos campos de futebol. O linguajar chulo já é um indicador dessa falta de educação que a família deveria dar. Mas essa instituição já não existe mais e muitos vão procurar no bando de equivalentes o amparo, o porto seguro, para que suas extravagâncias não sejam reprimidas imediatamente. Ao se agruparem, motivados por uma paixão também irracional – se toda paixão não fosse assim - , sentem-se protegidos e agem como feras soltas nos campos, nas ruas, nas favelas, nas praças, nos pastos, nas savanas ou na escuridão das matas virgens. A salvação para isso passaria pela Educação de Base. Pela Educação contínua, sistemática e assistemática, isto é, dentro e fora da Escola. Mas também nos campos de futebol de muitas praças de esporte da civilizada e culta Europa, vamos encontrar a violência viva nos estádios, deixando visíveis marcas de selvageria. Mas lá, outros fatos podem estar no epicentro desse terrível furacão de truculência urbana. Nos Estados Unidos não presenciamos esse tipo de violência esportiva. Parece que lá os esportes de massa não empolgam tanto, nem mexem com os nervos do saxão, como mexem com o sangue latino. Outros fatores, além da educação e da escolaridade servem de antídoto para dissipar a violência nos estádios americanos. Então, enquanto a bola rola no campo e a galera vibra e briga nas arquibancadas, os esportes de massa e, basicamente, o futebol vão se deteriorando, junto com a sociedade, sem família, sem valores morais, sem ética, deixando seus adeptos à mercê de um Estado viúvo, falido e quase sem forças para dar a volta por cima e casar de novo.

ATÉ A PRÓXIMA

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